Dia Nacional de Conscientização sobre as Mudanças Climáticas 2025: Falta Conhecimento, Falta Interesse e Sobra Inércia
15 de março de 2025
Há um ano, descrevi aqui no Academizando que não havia nada a comemorar naquele 16 de março, Dia Nacional de Conscientização sobre as Mudanças Climáticas de 2024. Eu nada sabia da situação difícil que nos aguardava no restante do ano. Para mencionar dois eventos climáticos: a histórica e trágica enchente no estado do Rio Grande do Sul, entre abril e maio de 2024, e o longo período de 155 dias de estiagem na cidade de Belo Horizonte, entre abril e setembro de 2024. O primeiro evento acompanhei pela internet e o segundo senti na minha pele.
Minha percepção sobre o estado das ações em relação às mudanças climáticas no Brasil é marcada por uma combinação de preocupação e frustração. Na última semana, tentei falar sobre mudanças climáticas com alguns estudantes na universidade. Foi uma conversa espontânea e informal. Mas fiquei ainda mais preocupado com o assunto: há pouca ou nenhuma informação e interesse pelo assunto. Isso não é culpa dos estudantes. Cada pessoa possui um amplo conjunto de problemas imediatos aos quais precisa se dedicar. A culpa é, no mínimo, das autoridades públicas nacionais, estaduais e municipais. Já está mais do que demonstrado que o combate às mudanças climáticas requer ação coletiva, e isso precisa ser impulsionado pelas autoridades públicas. A conscientização sobre o problema antecede a ação coletiva.
O Dia Nacional de Conscientização sobre as Mudanças Climáticas foi decretado pela Lei Nº 12.533, de 2 de dezembro de 2011. Qual é o propósito de instituir esse dia, se ações concretas de conscientização continuam ausentes ano após ano? Fora cientistas e ambientalistas, quem sabe da existência do Dia Nacional de Conscientização sobre as Mudanças Climáticas? Nenhum dos estudantes com os quais conversei sabia desse dia. Se estudantes universitários, que são pessoas muito mais informadas do que a média da população, não sabiam, o que dizer da população que nunca acessou o ensino superior?
Há dois dias, em 13 de março, a NASA divulgou uma análise sobre o nível do mar em 2024, revelando uma elevação em proporções inesperadas. O que diferencia 2024 dos anos anteriores é que esse aumento foi causado por um aquecimento anormal dos oceanos, combinado com o derretimento de gelo terrestre, como geleiras. A taxa de elevação registrada no ano passado foi de 0,59 centímetros por ano, superando a taxa esperada de 0,43 centímetros por ano. Como abordar o impacto desse resultado atípico com as pessoas, sem antes realizar um trabalho profundo de conscientização delas?
Mais próximo de nós, as pessoas não estão sendo informadas devidamente sobre a causa das tragédias que estão presenciando a cada ano. Lembremos algumas tragédias que todos no Brasil provavelmente já ouviram falar, mas que não são divulgadas ou discutidas como algo associado às mudanças climáticas:
- Mais de 179 mortos no Rio Grande do Sul nas enchentes no Rio Grande do Sul, em 2024
- Efeitos da chuvas na Barra do Sahy, em São Sebastião, São Paulo, deixaram dezenas de mortos em 2023
- Efeitos da chuva em Petrópolis, Rio de Janeiro, deixaram 178 mortos em 2022
- Janeiro de 2020 foi o mês que mais choveu em Belo Horizonte nos últimos 110 anos
A conscientização das pessoas sobre as mudanças climáticas é fundamental. Se as pessoas não forem devidamente conscientizadas de que esses eventos decorrem das mudanças climáticas, elas não desempenharão um papel determinante em ações de adaptação e mitigação.
Já nos debruçamos anteriormente sobre os efeitos danosos da baixa conscientização das mudanças climáticas no Brasil e como isso se reflete nas ações de adaptação e mitigação. Em 2023, publicamos na revista científica npj Climate Action um estudo que mostra a desconexão entre as autoridades climáticas e os cidadãos, especialmente nas redes sociais. Realizamos uma análise dos resultados desse estudo aqui no Academizando. Embora as autoridades tentem se comunicar durante os eventos climáticos, há desconfiança e baixo engajamento por parte da população. Essa lacuna na comunicação dificulta a associação entre eventos climáticos locais e o fenômeno global das mudanças climáticas. Isso representa um obstáculo significativo para a conscientização e a ação coletiva. A comunicação não pode ser restrita às ocasiões de eventos climáticos.
Se o Dia Nacional de Conscientização sobre as Mudanças Climáticas não existisse, seria urgente criá-lo. No entanto, ele existe apenas para “inglês ver” e não cumpre o papel de conscientização que deveria desempenhar. Como sociedade, estamos falhando miseravelmente em todas as frentes de combate às mudanças climáticas. A irrelevância desse dia é sintoma da baixa conscientização; o restante é consequência. Se o propósito e a aplicação desse dia já não fossem confusos o suficiente, está em discussão no Senado o Projeto de Lei (PL) 2215/2024, que institui o dia 27 de abril como o "Dia Nacional para a Ação Climática". Não está nem um pouco claro que esse novo dia trará maior efetividade, até porque poucos sabem desse esforço para a criação de uma nova data.
É urgente agir para ampliar a conscientização, um pré-requisito essencial para discussões aprofundadas sobre mitigação e adaptação. O país que se propôs a sediar a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), em novembro deste ano, em Belém/Pará, precisa cumprir seu dever de casa. O governo deve iniciar, o quanto antes, uma campanha de conscientização ampla, profunda e permanente voltada à toda população.
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