Sustentabilidade sob diferentes olhares: Reflexões e Perspectivas do PSVS24

Lesandro Ponciano ORCID iD

29 de outubro de 2024

Entre os dias 21 e 25 de outubro de 2024, aconteceu em Recife, Pernambuco, o Pernambuco Seminar on Visualization and Sustainability (PSVS24). Participei do evento a convite dos organizadores, os professores Luiz Augusto Morais e Nivan Roberto Ferreira Júnior, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Minha percepção geral é que o evento permitiu analisar a sustentabilidade sob uma diversidade de olhares. O nível de interseção entre os conteúdos das apresentações foi o mínimo necessário. Cada palestrante ofereceu uma perspectiva única. O resultado foi um conjunto de perspectivas construídas a partir de diferentes realidades, diferentes locais de existência. Entrelaçar ativismo, pesquisa, ensino e atividades empresariais é essencial para o debate sobre sustentabilidade. O evento atingiu esse objetivo.

Houve o painel Technology and the Planet: Navigating the Balance Between Innovation and Sustainability, moderado por Frédérique Krupa (Professora Paris College of Art), com a participação dos painelistas Bruna Albuquerque (Ativista e fundadora da Manifesto Ambiental), Mariana Amazonas (Co-fundadora da empresa de economia circular RODA), Raimundo Macedo (Professor da UFBA e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Computação - SBC) e minha participação como professor e pesquisador. Essa diversidade já indicava um painel com discussões ricas e diversas. As análises deixaram claro o quanto o capitalismo pode gerar "desejos" por consumo de itens desnecessários. Consumo esse que é cada vez mais danoso para o planeta. Mesmo o consumo excessivo de itens digitais (como a Inteligência Artificial) têm um custo, como o alto consumo de energia necessário em sua operação. O debate evidenciou a necessidade de uma ação coletiva, mas também explicitou a dificuldade de organizar essa ação de forma orgânica, que parta da reunião natural das pessoas.

Houve vários keynotes e workshops, muitos deles conduzidos por pessoas que também participaram do painel. O keynote de Frédérique Krupa foi um dos mais abrangentes. Pude identificar na sua apresentação vários dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Frédérique abordou a necessidade da inclusão de gênero e o problema energético no treinamento de inteligências artificiais. Mariana Amazonas, em sua palestra, discutiu o conceito de economia circular e exemplificou o contexto da empresa RODA. Sua apresentação foi bem didática, esclarecendo quando a reciclagem faz sentido e quando não faz, além da necessidade e dos desafios de estruturar uma cadeia de produção com ênfase na sustentabilidade. Bruna Albuquerque falou sobre ativismo e advocacia em prol das pessoas e do bem comum. Sua fala foi crucial para posicionar o papel do ativista e sua ação concreta para além do simbólico (como abraçar árvores). Por fim, Raimundo Macedo destacou ações relacionadas à tecnologia na mitigação das mudanças climáticas. Ele discutiu esforços e documentos produzidos no âmbito da SBC e do IFIP.

Na palestra intitulada Reflections on community communications for climate adaptation and preparedness through information and communication technologies, compartilhei os resultados das pesquisas que venho realizando nos últimos anos. Apresentei análises do artigo científico How citizens engage with the social media presence of climate authorities: the case of five Brazilian cities, publicado no periódico Climate Action. Também ampliei a discussão para incluir outras pesquisas e atividades de docência que estou conduzindo no âmbito das mudanças climáticas e da sustentabilidade.

Eu quis contribuir com o debate do contexto das cidades, em particular o caso de Belo Horizonte, onde vivo e observo as mudanças climáticas tanto como cidadão quanto como pesquisador. Busquei conciliar fatores humanos (como comportamento social, sistema cognitivo e emoções) e as características das tecnologias de comunicação (bottom-up, top-down, one-way e two-way) na percepção e experiência das mudanças climáticas. Foram feitas excelentes perguntas, principalmente sobre como lidar com o viés da normalização no contexto de preparação para eventos climáticos iminentes.

Fora dos auditórios, conversei bastante com estudantes e outras pessoas próximas ao bloco onde o evento ocorreu. Os estudantes, jovens de cursos de graduação, estavam dando suporte ao evento. Minha principal pergunta a eles era como percebiam as questões debatidas no evento. Alguns tinham uma visão instrumental de participação, desconectada do tema do evento: muitos estavam lá pelas horas complementares exigidas em seus cursos. No entanto, outros estavam genuinamente interessados e preocupados com a sustentabilidade.

Conversei também com uma senhora que vendia plantas na entrada do bloco. Ela me contou muito sobre sua história, como veio de São Paulo para Recife, e sobre sua percepção do trabalho de cultivar e vender plantas. Aparentou ser uma pessoa muito sensível, que passou por momentos difíceis durante a pandemia. Ao mesmo tempo, mostrava-se muito forte, com grande amor pela literatura e pelo meio ambiente.

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