Autoridades climáticas governamentais nas redes sociais: um estudo desencadeado por atividades nas redes sociais no dia mais chuvoso da história de uma cidade Brasileira

Lesandro Ponciano ORCID iD

30 de dezembro de 2023

No mês de janeiro de 2020, ocorreu uma grande chuva na cidade de Belo Horizonte, onde resido. Trata-se de uma cidade localizada no sudeste do Brasil e que tem mais de 2.5 milhões de habitantes. O evento climático de 2020, incluiu o que foi considerado o dia mais chuvoso da história da cidade de Belo Horizonte, que tem pouco mais de 100 anos. Durante o evento, as redes sociais (o Twitter, atual X, em particular) foram inundadas de imagens e vídeos de enchentes em várias partes da cidade. Eu procurei informações oficiais do setor público municipal e tive mais dificuldade do que achei que teria.

A partir desse evento, procurei estudar a presença de autoridades climáticas em redes sociais. De forma exploratória, busquei tanto literatura sobre o assunto quanto contas em redes sociais de autoridades climáticas. Claramente havia uma distância entre o estado da arte (as evidências científicas) e o estado da prática (a forma como as autoridades atuam) nas redes sociais. Então, eu busquei projetar um estudo para caracterizar como tal presença social ocorre na prática. Eu estava especialmente interessado em responder duas perguntas: (1) Que padrões de publicação emergem quando as autoridades governamentais locais comunicam aos cidadãos através de publicações nas redes sociais? (2) Como os cidadãos respondem às publicações das autoridades? O estudo empírico durou um ano, entre julho de 2021 e julho de 2022. O resultado é reportado no artigo How citizens engage with the social media presence of climate authorities: the case of five Brazilian cities (Ponciano 2023) publicado neste mês no npj Climate Action.

Além da principal cidade de interesse, Belo Horizonte, o estudo abrangeu todas as outras capitais de estados do Brasil que tinham as características desejadas de presença em mídias sociais e de eventos climáticos. Foram incluídas as cidades de Belém, na região Amazônica, São Paulo, uma das 10 maiores cidades do mundo, Porto Alegre, no sul do Brasil, e Rio de Janeiro, no sudeste do Brasil. Em um post anterior, eu expliquei um pouco sobre o projeto do estudo, os frameworks conceituais utilizados (Social Media Presence and Citizen Engagement) e os principais resultados obtidos. Estão disponíveis os dados produzidos no estudo provenientes do monitoramento das redes sociais e dos eventos climáticos ao longo de um ano.

Muito do estudo de engajamento foi inspirado por pesquisas de análise de padrões de participação das pessoas em sistemas sociotécnicos (O’Brien and Toms 2008; Ponciano and Brasileiro 2014). O framework de presença social, por sua vez, eu não havia utilizado em estudo anterior. Além de caracterizar a atuação prática das autoridades climáticas, o estudo permitiu produzir novos registros sobre engajamento humano. Enquanto alguns padrões de engajamento se assemelham aos observados em outros sistemas sociotécnicos, outros padrões se mostraram diferentes. O resultado que mais me impressionou foi o fato de que os cidadãos raramente associam o evento climático local ao fenômeno global das mudanças climáticas.

Pessoalmente, o estudo foi elucidador de por que não notei a presença da autoridade climática de modo proeminente no evento climático de 2020. O que ocorre é que essas autoridades possuem uma presença em mídias sociais que é muito formal e estruturada. As autoridades publicam conteúdo padronizado para situações típicas e raramente se engajam na discussão provocada pelos cidadãos. O tipo de informação (vídeos de enchentes, fotos, etc), que geralmente circulam intensamente nas redes, não é o tipo de informação que as autoridades climáticas publicam. As autoridades buscam informar e não engajar.

Referências

O’Brien, H. L., and Toms, E. G. What is user engagement? A conceptual framework for defining user engagement with technology. Journal of the American Society for Information Science and Technology, 59(6), 938–955 (2008).

Ponciano, L. How citizens engage with the social media presence of climate authorities: the case of five Brazilian cities. npj Climate Action 2, 44 (2023). https://doi.org/10.1038/s44168-023-00080-3

Ponciano, L. and Brasileiro, F. Finding Volunteers’ Engagement Profiles in Human Computation for Citizen Science Projects. Human Computation. 1, 2 (2014). https://doi.org/10.15346/hc.v1i2.12

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