A conquista do universo digital pela Inteligência Artificial

Lesandro Ponciano ORCID iD

16 de julho de 2025

Meu caro leitor, o universo digital virou palco de uma revolução silenciosa. Em plataformas como YouTube e TikTok, conteúdos criados por Inteligência Artificial dominam sua timeline. Seja no entretenimento — como os vídeos das adolescentes góticas de Xique-Xique, Bahia — ou na sátira política “Hugo Nem Se Importa”, a inteligência artificial mostra-se ferramenta indispensável ao produzir som e imagem com realismo impressionante.

IA ganha espaço no entretenimento e na política. No entretenimento, a inovação está na qualidade audiovisual que beira o indistinguível do real. Na seara política, vídeos falsos têm potencial de influenciar debates e até eleições. Em ambos os casos, a fronteira entre conteúdo genuíno e ficcional afina-se a cada dia, desafiando nossa percepção de verdade.

Além de gerar vídeos, a IA entrou de vez na vida de programadores e redatores. Hoje é raro encontrar um desenvolvedor que abdique de ferramentas de autocompletar de código baseadas em IA. Da mesma forma, escritores e revisores aproveitam assistentes inteligentes para elevar produtividade e consistência textual. Mesmo que ainda não substituam os melhores profissionais, essas soluções superam em muito o rendimento de um profissional mediano.

É inegável: a qualidade de entrega de uma IA não alcança o nível dos engenheiros de software mais experientes ou dos escritores mais criativos. Ainda assim, ela supera as médias de mercado, profissionais típicos. Se o foco é a produtividade, ignorar esse potencial é desperdiçar recursos valiosos. Muito mais eficaz é integrar a IA ao fluxo de trabalho e potencializar resultados.

Eu me refiro ao universo digital, pois ele é todo lógico; sua essência não é física. Nesse sentido, é muito mais fácil a IA se tornar programadora de software ou redatora crítica do que se tornar operária da construção civil ou profissional que realiza poda de árvores. Essas duas últimas tarefas são essencialmente físicas, e a IA tem pouca capacidade de atuar no espaço físico, já que a robótica e a internet das coisas ainda apresentam avanços bastante limitados.

Durante meu doutorado, utilizamos a metáfora de uma “fronteira” para diferenciar tarefas exclusivamente humanas (human computation) daquelas executadas pelos computadores (machine computation). Essa linha, antes estática, desloca-se em ritmo acelerado. Cada avanço empurra o limite das capacidades das máquinas para domínios que antes eram exclusivamente humanos.

Deixe-me colocar tudo isso junto por meio de um exemplo prático. Neste ano, completo 10 anos de defesa da tese “Computação por humanos na perspectiva do engajamento e credibilidade de seres humanos e da replicação de tarefas”. Revisei o trabalho e decidi criar um podcast usando IA.

  1. Converti o texto em PDF para roteiro e áudio com NotebookML.
  2. Gerei o cenário visual com Gemini a partir do conteúdo da tese.
  3. A IA do Clipchamp produziu a legenda

O resultado é o vídeo abaixo:

Eu finalizei manualmente ajustes de estética. O resultado superou minhas expectativas: o roteiro flui de forma natural e o áudio apresenta nuance verossímil, algo que eu dificilmente alcançaria sozinho.

A Inteligência Artificial já conquistou seu primeiro terreno — o universo digital — e logo será quase impossível distinguir quem, de fato, criou um conteúdo. Mais do que temer esse cenário, podemos abraçá-lo como oportunidade de inovar nossas práticas criativas e profissionais, tornando processos mais ágeis e resultados ainda mais impactantes.

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