Aaron Swartz e o uso da tecnologia para melhorar o mundo e não para torná-lo um lugar pior

Lesandro Ponciano

3 de julho de 2016

No dia 13 de janeiro de 2013, quando um amigo comentou sobre o ocorrido com Aaron Swartz, eu não dei importância. Eu não sabia nada sobre Aaron Swartz. Naquele momento, pareceu-me apenas uma história de suicídio com a qual pouco se aprende. Depois, ao longo de alguns meses, eu tive novos contatos com a história. Percebi que minha primeira impressão estava errada. Muito se aprende com a história de Aaron Swartz.

Meu objetivo aqui não é contar essa história. Há muito material sobre ela na Internet. Entre eles, eu destaco o artigo "Aaron Swartz, Internet Activist, Dies at 26, Apparently a Suicide" publicado pelo jornal americano The New York Times em 13 de janeiro de 2013 e o documentário "The Internet’s Own Boy: The Story of Aaron Swartz" escrito e dirigido por Brian Knappenberger, lançado nos Estados Unidos em 27 de junho de 2014. Talvez, o weblog que Aaron Swartz mantinha seja a melhor fonte de informações sobre sua visão de mundo. Aqui, eu quero apenas pensar sobre alguns pontos dessa visão.

Acredito que parte da genialidade de uma pessoa está na capacidade que ela tem de prover uma visão de mundo tão clara e coerente que, após conhecermos essa visão, torna-se difícil ver o mundo de outra forma. Aaron Swartz fez um pouco disso. Os pensamentos e as opiniões que ele tinha sobre a sociedade e, em especial, sobre a Internet são os mais coerentes que eu já conheci. Quando programo um computador para resolver um problema que eu não saberia outra forma de resolver, eu penso em Aaron Swartz e sua ideia de que saber programar computadores é algo que nos permite “fazer mágicas” que a maioria das pessoas não entendem. Quando faço buscas no google e sinto que os retornos parecem priorizar alguns sites, eu penso em Aaron Swartz e sua ideia de um gatekeeper controlando os conteúdos aos quais temos acesso na Internet. Quando estou procurando o arquivo pdf de um artigo científico e descubro que ele só existe na biblioteca digital JSTOR (à qual poucas pessoas têm acesso), eu penso em Aaron Swartz e sua tentativa de tornarem públicos os artigos dessa biblioteca. Também lembro dele quando assino um feed RSS, quando leio uma discussão no Reddit, … A lista é longa. Ele não se inibiu de pensar e questionar tudo na Internet. “Tudo na sociedade pode e deve ser questionado” era um de seus motes.

Os problemas destacados por ele não têm sido resolvidos. As soluções propostas por ele e a visão de mundo que ele propôs não estão tendo a visibilidade merecida. No “mundo da tecnologia”, são muitos os chamados gurus, ninjas, jedi, etc. Rótulos para pessoas de grande reputação e que, em certa medida, orientam o desenvolvimento de uma tecnologia. Infelizmente, não temos (em equivalente visibilidade, quantidade e influência) pessoas que orientem o entendimento dos efeitos sociais das tecnologias. Pessoas com uma visão que, como a de Aaron Swartz, oriente uma reflexão sobre práticas questionáveis que têm sido adotadas por grandes universidades e por grandes empresas de desenvolvidos de software. Aaron fez muito disso ao longo de seu ativismo. Isso é importante por que evita uma simples absorção de valores que é perigosa na medida em que é pouco crítica e que se funda em interesses mais individuais do que coletivos. Com uma coerência surpreendente, Aaron Swartz manteve-se crítico diante disso e talvez por isso tenha pago um preço alto em termos das represálias que sofreu.

Para aqueles que buscam parâmetros sobre como melhorar o mundo por meio de uma tecnologia ou que querem impedir que uma tecnologia seja usada para tornar o mundo pior, os pensamentos de Aaron Swartz devem se manter como referência importante. Também é urgente que se formem novas lideranças como ele; tenho visto poucas.

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